Consulta de retorno no consultório médico: quando cobrar? Essa é uma dúvida que aparece com frequência entre os médicos que acompanho na FVC:
“Bruna, devo cobrar pela consulta de retorno?”
“Existe alguma regra do CFM sobre isso?”
“Como não sair no prejuízo se o paciente aparece só pra ‘bater um papo’ e ocupa minha agenda inteira?”
Se você já vive (ou quer viver) do consultório médico particular, precisa entender que a forma como estrutura a consulta de retorno no consultório médico impacta diretamente no seu faturamento e na sua organização de agenda.
📌 A boa notícia é: sim, o médico pode cobrar retorno — desde que respeite o que é definido pelo Conselho Federal de Medicina e tenha clareza na comunicação com o paciente.
O que o CFM diz sobre a cobrança de consulta de retorno no consultório particular?
O CFM (Conselho Federal de Medicina) permite a cobrança pela consulta de retorno, desde que ela não configure mera “revisão de resultado de exame” ou complementação de consulta anterior por “falha” do próprio médico. Ou seja:
🔸 Se o retorno for apenas para entregar exame, sem nova conduta ou discussão, não se deve cobrar.
🔸 Se a nova consulta for uma reavaliação clínica, com nova escuta e possíveis ajustes de tratamento, ela pode (e deve) ser cobrada.
💡 A consulta médica é um serviço intelectual, técnico e profissional. O tempo do médico no consultório tem valor — e não deve ser doado em nome da informalidade.
❌ Exemplos de retornos que não devem ser cobrados:
- Revisão de exames laboratoriais com resultado normal, dentro do prazo definido de retorno gratuito:
- por exemplo, em até 15 dias após a consulta o paciente volta para mostrar exames que estavam pendentes.
- Ajuste pontual de posologia após reação leve à medicação, sem nova queixa:
- situação em que o paciente já foi orientado a retornar caso sentisse algo e aparece só para um ajuste rápido de dose.
- Solicitação de relatório médico relacionado à última consulta (sem nova anamnese):
- por exemplo, quando o paciente retorna apenas para buscar laudo, atestado ou relatório referente à conduta já discutida.
- Dúvida pontual sobre a orientação já dada na última consulta (sem nova avaliação clínica):
- por exemplo, quando o paciente volta apenas para esclarecer algo que ficou mal compreendido sobre o tratamento já prescrito.
✅ Exemplos de retornos que configuram nova consulta:
- Retorno com nova queixa principal ou sintomas diferentes dos discutidos anteriormente:
- por exemplo, quando na consulta anterior o paciente foi atendido por insônia; agora retorna com crise de ansiedade aguda.
- Intervalo superior ao prazo limite estabelecido para retorno gratuito (ex: 30 dias):
- Mesmo que seja sobre o mesmo assunto, o tempo decorrido já exige uma nova avaliação e registro clínico completo.
- Revisão clínica com necessidade de ajuste de tratamento, nova prescrição ou abordagem terapêutica:
- O paciente relata piora ou não adesão ao tratamento inicial e precisa de nova abordagem.
- Discussão de exames com alterações significativas e impacto no plano terapêutico:
- Ainda que o exame tenha sido solicitado na primeira consulta, se ele exige mudança de conduta, configura nova consulta.
- Paciente volta para abordar outra queixa ou condição não mencionada anteriormente:
- Exemplo: primeira consulta sobre hipertensão; retorno para discutir ansiedade ou sintomas gastrointestinais.
Na psiquiatria, retorno quase sempre é nova consulta
Bom, na minha prática como psiquiatra, são raríssimos os casos em que um retorno configura apenas “revisão de exames”.
📌 A cada reencontro, fazemos uma nova escuta, avaliamos evolução, impacto das condutas anteriores, adesão, efeitos colaterais e, muitas vezes, ajustamos o tratamento.
Por isso, quase todas as consultas, mesmo em sequência, são cobradas normalmente como nova consulta.
Esse é o modelo que pratico e ensino. E nesse artigo eu explico uma forma simples de calcular o valor justo de uma consulta.
Mas reconheço que em outras especialidades a lógica pode ser diferente. Por isso, é fundamental ter um critério claro — e comunicar isso ao paciente.
Evite prejuízo: tenha política clara de consulta de retorno no consultório médico particular
Dito isto, vamos entender o que você precisa para manter o financeiro do consultório saudável:
✅ 1. Definir o prazo para retorno gratuito (se houver)
Por exemplo: “Consideramos retorno gratuito até 15 dias corridos após a última consulta.”
✅ 2. Especificar o que é retorno e o que é nova consulta
Deixe claro: “Se houver novos sintomas, nova queixa principal, tempo superior a X dias ou necessidade de reavaliação completa, será considerada nova consulta.”
✅ 3. Entregar isso por escrito ao paciente
Pode ser impresso ou por WhatsApp — o que importa é deixar documentado e alinhado.
📌 Um informativo simples já evita muitos constrangimentos futuros.
✅ 4. Optar por retorno via teleconsulta (quando possível)
Para quem subloca turnos em consultórios físicos, fazer retornos por vídeo (com prontuário adequado) pode ser uma forma eficiente de evitar deslocamentos e otimizar agenda.
💡 Isso é algo que eu faço com frequência e, para alguns perfis de paciente, funciona muito bem.
Comunicação é tudo (e previne desconfortos futuros)
A maioria dos conflitos em torno da cobrança de retorno não vem da cobrança em si — vem da falta de comunicação clara.
📌 Quando o paciente já sai da consulta sabendo qual o prazo do retorno gratuito, o que caracteriza um novo atendimento e como esse retorno pode acontecer, a chance de objeções é muito menor.
E aqui vai uma dica de ouro:
👉 Os Scripts de Atendimento Inesquecível da FVC têm modelos prontos para explicar situações como essa de forma ética, profissional e acolhedora. Essa é uma ferramenta valiosa para médicos que querem se comunicar melhor com os pacientes e valorizar o próprio tempo.

Conclusão: o retorno deve ter valor — e isso começa com você
Sim, o CFM permite que o médico cobre pelo retorno, desde que não se trate de uma simples revisão de exame.
Mas, na prática, você precisa estruturar esse momento com critério, clareza e estratégia.
Se o seu consultório médico particular está sofrendo com buracos na agenda ou “retornos fantasmas” que ocupam seu tempo sem retorno financeiro, talvez seja hora de ajustar sua política de atendimento.
📌 Valorize seu tempo, sua escuta e sua entrega — mesmo nos retornos.
Quem respeita o próprio trabalho, ensina o paciente a respeitar também.
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